Os poetas são os agentes que manifestam a poesia, tra-zendo-a da imaterialidade para o mundo. Usam da palavra escrita ou falada, corporificando-a. Cada um deles tem o seu rítmo e seu universo próprio. Por mais que sigam cânones, ou não, é humanamente impossível que existam dois poetas iguais. Como as impressões digitais, que são personalíssimas, se individualizam e conquistam assim sua marca registrada, que é o dom pessoal e intransferível, aliado à inspiração e à consequente imaginação que a expande. Fábio José Vieira tem o seu patamar poético definido, o que é bem melhor para que permaneça na zona de conforto do universo onde se familiariza e reina. Seus motes são a figura feminina endeusada e ao mesmo tempo desejada. Somam-se a esta personagem os seus atributos, recebendo todas as loas possíveis que andam a reconhecer conceitos idealizados na sua poesia em torno desta musa, que, nas sucessivas edições, desde o primeiro livro "A Magia do Amor", esteve úbíqua a todos os relatos. Para o poeta, essa divina mulher é vista como uma menina moça, não que seja no sentido de exigir uma tenra idade, mas isso parece ser a metáfora que simboliza o ineditismo que ele espera do amor que a ele chega. Fábio Vieira, cog-nominado "Pratinha", está no interior de Minas Gerais, Estado que nos deu Rubem Braga, com suas crônicas marcantes de uma época. Não sabemos que identificação objetiva o Pratinha possa ter com o citado cânone. Mas podemos sentir, atraves da leitura de todos os seus livros que editamos, também, tecnicamente um cronista, porém mais calcado no amor. Em suas crônicas planta o lirismo imagético, transformando-as num ambiente erótico e poé-tico. Essa utilização da prosa para cantar o seu amor é bastante criativa e, de certa forma inovadora, não que outros já não tenham entrado no mesmo rumo, mas porque o Pratinha surgiu com esta visão idealizada e idealizante de, digamos, assim, salmodiar à sua preciosa musa. Esta, por sua vez, não traz surpresa, é sempre bela, linda, formosa, beldade e o poeta parece sonhar em pesquisar adjetivos em todos os compêndios possíveis para honrá-la e dignificá-la acima de tudo. Ele quer beijos e muitos beijos, abraços e mais a-braços, carinhos, que precisa sempre repetir para ser feliz e ainda com a preocupação de fazer feliz a sua amada. Ela, misteriosa, nada responde objetivamente e parece não esboçar sequer uma atitude. Para construi-la, ele precisa contar para ela o seu amor, e o que é que eles fazem quando se amam. É possível que o leitor veja este enredo como platônico com arroubos de prazer material solitário. Vejo neste autor um cronista do amor dentro de um rea-lismo fantástico e me vem à lembrança o universo sui gêneris retratado no livro "Pedro Páramo", de Juan Hulfo, onde tudo acontece sem acontecer, ou acontecendo somente na sua visão idealizadora. Já mencionei que o Pratinha, como poeta, sugere um gran-de segredo, que esconde e ao mesmo tempo nos conduz a pensar na existência desse segredo. Por vezes, apesar dos inúmeros contatos com este poeta, durante as edições dos seus livros e das provas cabais de que existe, me pergunto se ele é real. Mas, reportando-me ao enredo do Pedro Pâra-mo, quem sabe se Fábio José Vieira não está num universo paralelo, mandando suas impressões cósmicas para alimentar sonhos e fantasias de outrens. Ele não surpreende muito em enredos, porque é mais sim-bolista do que prático e nisto reside a magia da sua obra. Porém, instiga a gente a pensar que há coisas entre o céu e a terra que a nossa vã filosofia não entende, como diz o provérbio secular. Se existem essas tais coisas invisíveis, podem crer que o Pratinha anda no meio delas. Quem sabe se não é o seu modo de controlar o seu amor para nunca sair dos eixos? E com isso sublimar-se como humano acima dos sentidos comuns do povo. Pelo sim ou pelo não, nada posso confirmar.