A experiência de se lidar com situações que envolvem ameaças à integridade física do indivíduo traz uma sobrecarga e dificuldade para trabalhar aflições, angústias, medos e ansiedades ou dificuldades diversas. Sabe-se que o impacto de um diagnóstico de câncer necessita de elaboração, já que este quadro ainda carrega muitos aspectos do estigma de morte. As formas que o paciente adota para lidar com a situação estão vinculadas ao seu histórico pessoal e familiar e, especificamente, o câncer mexe com as representações sociais e com o imaginário das pessoas afetadas, trazendo o estigma que acompanha a doença. Na perspectiva epistemológica, com o objetivo de favorecer o diálogo entre Psicologia e Medicina na questão do câncer de mama, é preciso distinguir o conhecimento científico de outras formas de conhecimento, o que reforça o pensamento sistêmico como um conjunto de pressupostos a embasar a atividade científica nos próximos tempos. Trata-se, portanto, de uma nova maneira de ver e pensar o mundo, que procura integrar os sistemas de conhecimento. Isto inclui, também, aspectos afetivos e sociais sendo que os tipos de estratégias utilizadas para se lidar com os fenômenos relacionados ao câncer de mama poderão determinar o grau de adaptação saudável à situação, principalmente da mulher. Sabe-se, ainda, que o diagnóstico causa transtornos externos e internos, especialmente quando há a necessidade de se fazer a mastectomia e os altos níveis de angústia podem retardar a recuperação e acelerar o curso da doença. Este trabalho apresenta dados de uma pesquisa qualitativa fundamentada na Teoria Geral dos Sistemas que buscou compreender como se estabelece a dinâmica conjugal em situação de câncer de mama. Enfatiza, também, a identidade e as significações na dinâmica conjugal a partir do diagnóstico, lançando um olhar sobre a reestruturação dessa relação e os aspectos da forma de enfrentamento, da mudança da autoimagem e da dependência entre o casal. Foi feito com estudo de caso, utilizando entrevistas semiestruturadas. Participaram do estudo dois casais residentes no Distrito Federal, sendo cada um entrevistado ao longo de três sessões enfocando a história do casal, descoberta, diagnóstico, tratamento do câncer e as estratégias utilizadas ao longo deste processo para se lidar com a situação. O objetivo da pesquisa foi investigar a dinâmica do casal antes, durante e depois da doença e o seu impacto na estrutura conjugal. Os dados mostram a importância do diálogo e da interação entre o casal durante o diagnóstico, o tratamento, sua participação no processo de cura junto com a equipe médica e o planejamento do futuro depois de estabilizado o quadro da doença; o equilíbrio entre estratégias de coping emocionais e racionais, assim como as nuances da relação, que incluem aspectos de dependência emocional, culpabilização e desconforto inicial com as questões de sexualidade, a necessidade de reestruturação conjugal para continuar cumprindo suas funções como eixo das relações familiares e a mobilização de recursos para lidar com elementos estressores, também foram observados. A pesquisa indica a necessidade de outros estudos na área e salienta a importância da busca de melhoria no atendimento às pacientes com câncer de mama e seus cônjuges.