A presente obra está fundamentada na convicção de que a religião é um empreendimento humano, proveniente do anseio da criatura em conhecer seu Criador. Entre as inúmeras veredas deste intercâmbio, será trilhada aquela que possui fundamentos filosóficos – racionais –, pois é esta ciência que mais aproxima as criaturas do divino. O tênue elo condutor deste encontro será a consciência humana e a liberdade divina, onde visar-se-á a contemplação do homem como "ícone" de Deus. Desde a Antiguidade greco-romana, há a constatação de que diferentes povos – apesar de suas fecundas diferenças culturais e de seu distanciamento geográfico – professem a crença num Ser (ou seres) divino que possui característica de um ente superior ao mundo e aos homens, do qual ambos dependem, e a quem devem os homens obedecer e prestar contas da vida moral. O que se espera também, deste Ser superior, é que ele ofereça ao gênero humano subsídios para a compreensão do enigma que envolve o mundo e a vida. Baseados nessa verificação, admite-se que deva existir uma ideia (um espírito) inata de Deus em todos os homens. Deus é, pois, um dado originário: assim como assevera René Descartes. Neste contexto, à filosofia moderna atribui-se a imensa tarefa de recomeçar desde o início a construção da episteme, a ponto que conseguiu perturbar o equilíbrio da forma tradicional do pensamento filosófico. Ademais, a reflexão histórico-filosófica acerca de Deus decorre de duas vertentes: a de quem toma posição, afirmando (teísmo) ou negando (ateísmo) a existência de Deus; e a do agnóstico – que considera impossível qualquer solução sobre este tema. Entre as vertentes, será ressaltada de maneira veemente a posição afirmativa sobre a existência de Deus (o teísmo), já que este é o escopo primordial desta obra: "A Concepção de Deus". Com efeito, o homem possui uma concepção a respeito de Deus, visto que é um ser que interroga e que tem a capacidade de refletir, de se dobrar sobre si mesmo e sobre as suas ações. Depois de ter interrogado o mundo – apoiado pelos sistemas: científico, matemático, biólogo, político, econômico etc. –, o homem ainda deseja perguntar pela arque cósmica, pelo motor imóvel, pela causa dos causados, pelo gerador não gerado, pelo movente não movido... Enfim, é na interrogação e na reflexão, ou seja, na ação filosófica que o homem – de espírito inquietante – congemina e amadurece as suas ações de sinal autenticamente humano, almejando respostas que ultrapasse qualquer possibilidade experiencial e/ou que transcenda este mundo fenomênico, mesmo correndo o risco, segundo Immanuel Kant, de cair no erro da ilusão transcendental.