Quando o indivíduo se descobre senhor de si; se vê único e importante para
consigo próprio e se ama sobre todas as coisas, ele passa a ver a obediência
como o que há de mais decadente no ser – obedecer e ser obedecido. Neste
momento, o sujeito inicia um processo que o leva a observar o que lhe é
externo, e, ao amar-se em primeiro lugar, pode, então, amar a outrem. Isso lhe
faz provar do tempero da Liberdade. E depois de sentir o gosto de ser livre, o
indivíduo se seduz pela arte de criar e contemplar criações, tornando-se,
naturalmente, artístico e poético. Ele é agora o Deus de si mesmo. Não mais
pertencendo ao dever de servir, o sujeito passa, então, a se deslocar um
bocado da marcha pretensiosamente ritmada em que se arrasta a procissão à
qual segue o rebanho que vê, e se recusa a muitos labores, atrevendo-se a
gozar o ócio, os prazeres, os vícios, o amor, e a desprezar a subserviência, a
mansidão, a hierarquia e o sacrifício. A este ser profundo, ansioso por liberdade e arte,
cheio de romantismo e, ao mesmo tempo, sarcasmo,
costumam chamar de vagabundo...