O real enquanto impossível aponta para a direção do insondável, do que se mostra como estranho ou mistério e que não se deixa apreender. Essa atmosfera perpassa toda a vida humana, no sentido de que, enquanto sujeitos, somos atravessados por um non-sens, um limite, seja este o limite do desejo ou da própria existência, representado pela morte. Por outro lado, é desta finitude que emerge a possibilidade de significações, tal como a vida e a morte, o ser e o nada, o eu e o outro. Entre um e outro não há contradição, mas reversibilidade, quiasma, que encontra no conceito de carne (Chair) de Merleau-Ponty, em Lacan por meio do conceito de extimidade (Extimité) e a figura topológica da Fita de Möbius, um modo de descrever esta experiência arqueológica da existência. Esta experiência não passou despercebida por Freud, principalmente ao descrever a vida anímica marcada por uma estranheza íntima (Unheimlichkeit). É esta estrutura que A carne do real tenta recuperar, a partir do diálogo entre Merleau-Ponty e a psicanálise, a fim de permitir entendermos o funcionamento de nossa existência enquanto sujeitos de desejo e cindidos pela finitude.