Este livro tem o objetivo de estudar como Johannes Kepler (1571-1630), em sua Astronomia Nova (1609), identifica e esboça uma nova astronomia, especialmente ao romper com o axioma platônico dos movimentos celestes circulares e uniformes ao propor uma órbita elíptica para o planeta Marte. Analisaremos, nesta obra, como a metafísica e a teologia influenciaram a epistemologia kepleriana, sobretudo por meio de duas hipóteses frequentemente negligenciadas pelos estudiosos de Kepler: a ação da força motriz solar sobre Marte, que daria conta de justificar o formato da órbita elíptica, e o movimento de libração, responsável pelo fenômeno de aproximação e afastamento do planeta em relação ao Sol. No Principia, Isaac Newton afirmou que Kepler teria adivinhado a órbita elíptica, pois essa descoberta não seria totalmente justificada do ponto de vista empírico. Com efeito, apresentamos argumentos que contrariam a visão segundo a qual Kepler teria determinado a órbita elíptica de Marte utilizando única e exclusivamente os dados empíricos de Tycho Brahe (1546-1601).