A festa para Virginia Woolf é como um laboratório, um espaço em que a autora lança mão para melhor observar o pathos dos seus personagens. Expostos à solta no salão, seus desejos, medos e fraquezas aparecem dilatados. Woolf é como uma cientista, jogando com suas "peças". Já nas linhas iniciais do conto A apresentação, vemos todas as nuances do pavor da jovem Lily Everit diante das exigências de um evento social: "Lily Everit viu que Mrs. Dalloway vinha abater- se sobre ela desde o outro lado da sala, e teria rezado para ser deixada em paz". Mas não houve tempo para uma prece. E nem rezar teria adiantado muito.
Lançada sem paraquedas num encontro com um cavalheiro de gestos duvidosos, Everit vê as certezas da sua emancipação como mulher se dissiparem, enquanto a festa de Mrs. Dalloway se desenrola ao redor. O lusco-fusco entre quem a jovem é e de como precisa agir, para estar ali, exposta em público, é tremendo. O conto A apresentaçãoé uma pequena obra-prima de Woolf, que soa mais cruel, triste e verdadeira a cada nova releitura.