A angústia é um afeto que toma cada vez maior destaque na contemporaneidade, sendo imperioso desenvolver-se novas trilhas e perspectivas para compreendê-la. Esta obra objetiva refletir sobre o fenômeno da angústia na clínica psicanalítica freudolacaniana contemporânea a partir do diálogo com as artes e a mitologia, com foco especial para a ficção de horror na literatura e no cinema, sendo o fio condutor da discussão o texto "O estranho" (Das Unheimliche, 1919) de Sigmund Freud. Os vínculos entre o estranho e a angústia foram desenvolvidos por meio de três grandes eixos que enfatizam a relação do sujeito com o outro especular, com a castração e com o desejo do Outro. Assim, inicia-se analisando a questão da angústia perante o outro especular a partir da figura sinistra do "duplo"; prossegue-se para abordar o tema angustiante das fantasias de castração – vistas como motor fundamental da angústia para Freud; e finaliza-se com a percepção lacaniana do "estranho" como expressão fenomenológica da angústia perante o desejo do Outro. Trata-se, portanto, de um percurso sobre o tema da angústia em psicanálise sob um prisma deveras singular – o do "estranho" (Unheimlich) freudiano. O estranho é definido como a forma paradigmática da angústia (angústia sinal para Freud) que alerta o sujeito acerca de sua posição passiva e desamparada de objeto para o desejo e para o gozo do Outro. Argumenta-se que a angústia, por sua vez, pode apenas ser superada na passagem do gozo ao desejo, o que evoca a cena mítica da vitória de Perseu sobre o sinistro olhar da Medusa. Profissionais, estudiosos e interessados na clínica psicanalítica
serão apresentados a perspectivas para a compreensão do tema da angústia originadas do diálogo com a ficção de horror. Outrossim, interessados por literatura e cinema encontrarão possibilidades fecundas de leitura – porquanto inspiradas pelo contato com a psicanálise – em relação a obras clássicas da ficção fantástica e de horror e à estética desses gêneros.