O menino deste rio de histórias nos toma pela mão, leva-nos para a beira do rio de águas poéticas e nos dá notícias de um outro tempo possível, onde a existência transcorria no ritmo da vida feita à mão. Menino mágico, este que Rita, amorosamente, nos apresenta. É impossível não se afeiçoar a ele, lúdico menino, encantador de águas, com poderes poéticos que lhe permitem “pôr o rio no bolso, dobrar o rio e colocá-lo debaixo do braço”. Íntimo que é das águas, a elas lança suas dúvidas e perplexidades de menino em estado de descoberta do mundo. Rio e menino cúmplices pelas encostas do sonho, onde a imaginação é soberana e dá as cartas para a reinvenção do vivido.
A figura da lavadeira nas águas claras do rio é uma aparição feliz nas linhas poéticas da autora. As lavadeiras de outrora eram guardiãs de ricos acervos da tradição oral, pródigas em cantos, histórias e saberes. E lutas pela sobrevivência em tempos de nenhum direito social. É sabido que não existe “a infância”, mas “infâncias” diversas, plurais. No entanto, todas as infâncias têm o direito ao sonho, ao reencantamento do mundo, não importa o contexto. Neste sentido, o menino que vamos conhecer nestas páginas encarna a liberdade plena para o exercício da fantasia infantil, apoiado pela mãe, lúdica no justo tempo.
Vale muito a pena conhecer o Menino Aguado, em sua trajetória pelo mundo sensível das coisas simples e humanas. Neste mundo de durezas e estridências, a arte, a literatura são postos de resistência, abrigos de brotação, algo como o que se lê em Winnicott, que invoco para encerrar estas palavras: “É hora do sensível voltar para casa, pois o sensível é o paraíso que perdemos.”