Houve tempo em que os descrentes eram raros. Mas alguma coisa ocorreu: o céu ficou vazio, a ciência e a tecnologia pretenderam construir um mundo em que Deus não é mais necessário como hipótese de trabalho. Desapareceu a religião? Não. Ela permanece e freqüentemente exibe uma vitalidade que se julgava extinta. Em O que é religião?, R. Alves retoma a importância do mundo do sagrado, afirmando que a religião está mais próxima de nosso cotidiano do que desejamos admitir: não há pessoas das quais as perguntas religiosas tenham sido radicalmente extirpadas. A religião não se liquida com a abstinência de atos sacramentais e a não-freqüentação de lugares sagrados; ela pulsa nas perguntas sobre o sentido da vida e o sentido da morte. Promessas terapêuticas de paz individual, de harmonia íntima, de liberação da angústia, esperanças de ordens sociais fraternas e justas, de resolução dos conflitos e lutas entre os homens e de harmonia com a natureza, por mais disfarçadas que estejam nas máscaras do jargão psicanalítico/psicológico, ou da linguagem da sociologia, da política e da economia, serão sempre expressões dos problemas em torno dos quais se tecem as teias religiosas. Nosso mundo não se secularizou. As esperanças religiosas ganharam novos nomes e novos rótulos e seus sacerdotes e profetas, novas roupas, novos lugares e novos empregos. Por isso se pode dizer: longe de ser uma janela que se abre para panoramas externos, o estudo da religião é um espelho em que nos vemos. A ciência da religião é ciência de nós mesmos.