O livro que deu origem ao filme “Uma noite de 12 anos”, do Netflix.
Prêmio Bartolomé Hidalgo na categoria Testemunhos.
Pepe Mujica, Mauricio Rosencof e Eleutério Fernández Huidobro não eram prisioneiros: eles eram reféns da ditadura cívico militar que tomou o poder no Uruguai em 1973. Se as famílias fizessem denúncias no exterior, se os companheiros Tupamaros atentassem contra os militares, se um resgate fosse tentado, os três reféns seriam executados.
A comida era pouca, às vezes nenhuma. O frio intenso. Quando queriam ir ao banheiro, eram amarrados, encapuzados, e habitualmente espancados no trajeto. De tão precárias as condições, apegaram-se ao capuz, o mesmo que os vendava, e o utilizavam de travesseiro, de coberta, mantinham-no limpo, da forma como era possível em condições tão insalubres.
Comunicar-se era definitivamente proibido. Ainda assim, batendo os dados contra a parede, num código morse improvisado, conversavam, lutavam, militavam, jogavam xadrez.
Finalmente libertados, em 1985, Mauricio Rosencof, o Russo, e Eleutério Fernández Huidobro, o Nhato, colocam-se diante de um gravador para narrar todo o vivido naqueles 12 anos. Pepe Mujica, futuro presidente do Uruguai, edita o livro. Eduardo Galeano escreve o prefácio. Assim publica-se a primeira edição de “Memórias do Calabouço”, livro fundamental para se compreender as ditaduras sulamericanas.