Marcos Rey é daqueles escritores que prendem o leitor desde a primeira frase e só o libertam após o ponto-final. Herdeiro dos grandes autores de romances de aventura, com um gosto mal disfarçado, mas contido, pelo folhetinesco, sabe como dosar o suspense para manter o leitor sempre de fôlego curto, ansioso para desvendar o mistério proposto.
Mistério, no caso, nem sempre significa a resolução de um enigma complicado, indispensável à salvação da vida do personagem. O mistério pode ser também psicológico, um daqueles grilos que levam as pessoas aos atos e atitudes mais estranhos. Uma inclinação indefinível, como ocorre no excelente conto "O Locutor da Madrugada", que Fábio Lucas, no prefácio deste livro, classifica, com razão, como machadiano: "Machadiano com maior liberdade quanto à mise-en-scène".
Romancista, autor de mais de quarenta títulos que alcançaram uma vendagem superior a 5 milhões de exemplares, Edmundo Donato (este o seu nome verdadeiro, o outro é pseudônimo) escreveu de tudo um pouco. Foi redator de rádio, publicitário, redigiu roteiros para o cinema e a televisão.
O conto foi paixão prematura. Antes mesmo de aprender a ler, já vivia envolvido pela magia das histórias que seu pai lhe contava, à noite, entre goles de vinho branco.
Deve ter sido aí que aprendeu algumas das virtudes capitais que distinguem os seus contos: o relato direto, objetivo, sem preciosismos de estilo, num ritmo envolvente, tal e qual uma boa narrativa oral. Aos 17 anos publicou o primeiro conto em um jornal paulistano. Não parou mais, senhor de seu ofício e da arte de prender o leitor.