Romancista de sucesso internacional, Ignácio de Loyola Brandão é também um cultor exímio do conto. Essas histórias curtas - escritas em linguagem coloquial, sem complicações de estilo ou termos raros, de comunicação imediata com o leitor - complementam a sua visão da sociedade contemporânea, expressa através dos romances. Mudam os gêneros, permanece a mesma inquietação do autor, a insatisfação com certos aspectos da realidade, a rebeldia ante os poderosos, o incômodo com a situação caótica da cidade (no caso, São Paulo), mas também a simpatia (por vezes com um fundo de crueldade, um jogo sadomasoquista com a personagem) pelos sonhadores frustrados, quase sempre inofensivos, como no sarcástico" 45 Encontros com a Estrela Vera Fischer".
Simpatia e sarcasmo se aguçam ainda mais quando trata do sonhador erótico que às mulheres de carne e osso prefere as mulheres irresistíveis das revistas pornográficas ("Anúncios Eróticos"). A fantasia mais forte do que a realidade. A fantasia superando a realidade pode ser uma simples opção erótica, mas, em dimensões artísticas, significa o ingresso no fantástico, tão da preferência do escritor. Vejam-se os contos "O Homem que viu o Lagarto Comer seu Filho" e "O Homem cuja Orelha Cresceu". Apólogos sem véu de alegoria de uma civilização em agonia? Ou de um país em crise? Talvez. Mas o autor sabe que a realidade, muitas vezes, pode ser mais fantástica, ou pelo menos mais contundente do que a imaginação. E muito mais cruel, como no "Retrato do Jovem Brigador".
Seja como for, a ficção de Inácio de Loyola traduz a realidade do homem brasileiro e a situação conflituosa da sociedade atual, a carência de valores, a imposição da violência, o desmoronamento das crenças, o vazio existencial, mas também a persistência dos sonhos com o futuro. Ainda restam algumas esperanças.