No cotidiano do terreiro, quer se trate de obrigações reservadas aos iniciados, de festa pública aberta a todos, ou mesmo da convivência rotineira na manutenção da casa e da sua comunidade, as regras de comportamento são estritas. Para tudo que se faz existe uma maneira correta, desde a ordem dos cumprimentos ao modo de comer, que não é igual para todos. Nada está escrito, mas está tudo na chamada lei do santo: o conjunto de regras que regula o comportamento nos terreiros e entre os terreiros, suficientemente vagas para permitir uma grande elasticidade na interpretação e na aplicação dos costumes em cada terreiro, segundo a orientação de seu chefe, e suficientemente estritas para que cada membro do disperso e diversificado povo de santo reconheça no outro um seu igual. Neste livro, Armando Vallado propõe discutir questões de poder e conflito nos terreiros de candomblé. Para ele, ser do candomblé significa despertar amor e também muito ódio, e a competição entre seus membros se desenrola dentro e fora dos muros do terreiro. Sem autoridade central, o povo de santo se apoia na lei do santo, que não está escrita em lugar algum, e apenas existe na cultura oral do candomblé.