Contos Tradicionais do Brasil, de Luís da Câmara Cascudo, reúne cem histórias populares, colhidas diretamente na boca do povo brasileiro. Histórias de pobretões que conseguem a mão de princesas, de demônios logrados pela astúcia feminina, de assombramentos, de tratados com a morte, de criminosos denunciados pelo canto de um pássaro, de enigmas cuja resolução significa a riqueza e a felicidade, um mundo maravilhoso que fascina o povo brasileiro, como seduzia, há quatro, cinco mil anos, o homem do povo na Suméria, na Babilônia, no Egito. Mestre Cascudo ensina que o mais antigo conto que se conhece, narrando a história de dois irmãos, foi escrito por um escriba egípcio, há 32 séculos. História maravilhosa, envolve metempsicose, gravidez mágica, onipotência real e vários elementos ainda vivos nas histórias tradicionais brasileiras, num roteiro fantástico de mais de 3 mil anos, através dos mais diversos povos e culturas, até chegar à boca do contador popular nordestino ou da mãe carinhosa contando histórias para adormecer o filho. Infelizmente, com a urbanização e o advento dos meios eletrônicos de comunicação, essas estórias começaram a ser esquecidas, vivendo hoje na memória de alguns velhos e em obras como esses Contos Tradicionais do Brasil. Contos que oferecem ao leitor realmente curioso um duplo prazer: as histórias em si, cuja redação preserva aquela velha sabedoria e malícia popular, e as notas do mestre Cascudo, eruditíssimas, mas sem sombra de pedantismo, tão sedutoras quanto os próprios contos. O velho Diderot, citado por Machado de Assis, dizia que quando se faz um conto, o espírito fica alegre, o tempo escoa-se, e o conto da vida acaba, sem a gente dar por isso. Tão interessante quanto fazer contos é ouvi-los ou lê-los. O conto da vida passa rápido e cheio de encantamento.