Baú de miudezas revela e guarda, a um só tempo, as coisas pequenas do cotidiano que nos instruem sobre a marcha do mundo. Aliás, o cotidiano é o cenário privilegiado sobre o qual ela se movimenta. As artes de fazer, as experiências do homem ordinário, no dizer de Michel de Certeau em A invenção do cotidiano, ganham espessura nas narrativas de Cidinha, que se mostram muito próximas da intensidade da vida real. Nessa tessitura, novos temas ganham vulto cada vez mais proeminente: vemos a escritora avançar nas raias do mundo homoafetivo e das relações amorosas; pensar os agenciamentos da procura por visibilidade em fase fulgurante das redes sociais, leia-se, do facebook; reposicionar o debate político sobre as práticas das religiões de matriz africana; traçar perfis de personalidades a partir de ângulos pouco ou nada explorados pela ortodoxia midiática; declarar amor às cidades, revelar admiração por talentos artísticos do mundo negro. Ora divertidas, ora irônicas, ora austeras, as crônicas de Cidinha nos permitem perscrutar nosso mundo interno.