A emergência de uma recente onda de difusão de direitos de terceira geração a partir da década de 1960 trouxe consigo um foco de destaque sobre agendas temáticas e sujeitos sociais que estavam relativamente marginalizados dos grandes debates públicos, repercutindo assim na emergência de um crescente campo de estudos e de policymaking sobre gênero e violência de gênero, bem como de um novo olhar, novas políticas e novas atitudes em vários países democráticos no mundo Partindo desta temática, o objetivo do presente livro, "Violência de gênero e a pandemia de COVID-19", é analisar a já complexa temática da violência de gênero no Brasil, tomando como referência a contextualização excepcional de um choque exógeno nas dinâmicas sociais, ocasionada pela incidência de uma pandemia que trouxe significativas transformações em múltiplas áreas da vida humana, inclusive nas interações interpessoais, potencializando conflitos a direitos e garantias das mulheres. Organizada em sete capítulos, esta obra apresenta um minucioso e crítico olhar sobre as conjunturais repercussões da pandemia da COVID-19 no aumento dos já, estruturalmente, elevados indicadores de violência contra a mulher no país, proporcionando assim um amplo debate multidisciplinar que combina a apreensão de forças de curta e longa duração sobre esta problemática realidade social. A realização desta obra somente foi possível em função de um comprometido trabalho coletivo de um grupo de 25 profissionais, caracterizado por pesquisadoras e pesquisadores com distintas experiências e formações acadêmicas, oriundos de instituições públicas e privadas de ensino e pesquisa das regiões Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste e Norte do país. Ao promoverem uma agenda dialógica, os profissionais envolvidos nesta obra ofertam uma leitura multidisciplinar sobre a violência contra a mulher, em especial sobre sua manifestação no contexto da pandemia de COVID-19, demonstrando assim a necessidade e relevância da existência do debate de diferentes óticas e marcos teórico-conceituais para focar este complexo fenômeno empírico. Caracterizado por um conjunto de estudos exploratórios de natureza qualitativa, o livro combinou, tanto, o ecletismo de distintos paradigmas teóricos e doutrinários com raiz em perspectivas que vão do racionalismo e chegam ao reflexionismo, quanto o uso de um convergente método dedutivo, possibilitando a imersão em uma série de marcos teórico-histórico-legais para analisar a realidade empírica da violência de gênero durante a pandemia da COVID-19. O pluralismo teórico-metodológico e a capacidade dialógica dos pesquisadores apresentados nos diferentes capítulos desta obra proporcionam uma rica agenda exploratória de natureza não apenas descritiva da problemática central do estudo, mas repercute também em uma rica capacidade prescritiva no combate à violência contra a mulher, razão pela qual torna-se uma leitura oportuna, sendo recomendada para um amplo público, ao corroborar com alguns feixes de luz ao complexo caleidoscópio da realidade brasileira.