No momento de minha queda, como o leitor já deve ter imaginado, aquele pedaço de corda não suportou. O resultado foi que caí de traseiro no chão, ao mesmo tempo em que afundava o crânio na barra de ferro da cadeira que havia virado. Com a pancada, desmaiei. Quando acordei, sentia fortes dores de cabeça. Ainda meio confuso, percebi que estava num hospital, mas um lugar não conhecido, jamais havia estado ali. A cidade tinha apenas uma santa casa, e eu conhecia muito bem aqueles quartos, os funcionários me eram familiares. Contudo, onde eu me achava no momento era-me absolutamente desconhecido. Estava num sanatório. Fiquei alguns dias me recuperando na ala médica do manicômio. O desfecho de minha queda foi uma luxação no ombro, um hematoma latente no pescoço e uma fratura no quadril. Por sorte, dizia o médico, não tive traumatismo craniano. Se tivesse tido sorte, pensava, eu não estaria aqui. Depois que recuperaram meu corpo, quiseram-me recuperar a alma. Era, o que se diria, a tarefa mais difícil e importante àquela altura. Mas, para um suicida, pouco importava o que viessem a fazer. Meu infortúnio era ficar preso, trancado num mausoléu de almas perdidas, sem a liberdade que tanto prezava. Nem me lembro quanto tempo fiquei enclausurado. Tomava as medicações que me serviam, conversava diariamente com os psicólogos, e como me julgaram amansado, deram-me alta. Fizeram um estardalhaço com minha família. Disseram a eles que me vigiassem todo o tempo, que eu não poderia ficar nem um minuto sequer sem a companhia de alguém. Eu pouco me importava. Haveriam outras oportunidades.