Mestre das letras e da cultura afro-brasileira, Nei Lopes empunha a pena da ficção para retratar o mítico Rio de Janeiro dos anos 1950. Mas não o Rio em que surgia a bossa nova, e sim aquele em que intelectuais, sambistas, jogadores de futebol, músicos, políticos, malandros, vedetes, padres e pais-de-santo, majoritariamente negros, espalhados em bares como o Nice, o Café Capital, o Abará e, principalmente, o Rio Negro, passavam noites inteiras discutindo questões políticas, sociais e culturais.
As histórias – pois são muitas as vidas que se cruzam neste romance – começam no dia 17 de julho de 1950, quando a derrota do escrete brasileiro na Copa do Mundo motiva um assassinato absurdo, de fortes conotações racistas. O crime é discutido na roda do Café e Bar Rio Negro – criação ficcional que sintetiza esse efervescente meio cultural –, epicentro da vida intelectual dos "homens de cor" na Capital da República, e onde somos apresentados a fascinantes personagens, como o jovem jornalista e sociólogo Paulo Cordeiro, pesquisador das tradições afro-brasileiras, João, um vendedor de amendoim conhecido pelos intelectuais do Rio Negro como "Maní", e Esdras do Nascimento, dramaturgo, ator e militante pelos direitos dos afro-brasileiros. A partir desse microcosmo da então capital da República, em que personagens da história brasileira, como Dolores Duran e Abdias Nascimento, se cruzam nas deliciosas criações ficcionais de Nei Lopes, percorremos uma década decisiva da cidade do Rio de Janeiro e da afirmação da cultura afro-brasileira.