Ninguém consegue evitar. O olhar de outra pessoa. Aquele olhar surpreendente que muitas vezes nos enlouquece. Aquele olhar que todo o nosso corpo estremece. Parece ser dono da gente, penetra tão fundo. Em um só segundo, vê tudo de nós. As nossas fraquezas arquejantes tentam se recompor. Puxa, espicha o nosso olhar, desvia pro lado. Entendemos logo, fomos roubados o que de mais belo tínhamos. A nossa liberdade, a nossa saudade de sermos livres. De liberarmos os nossos jeitos cada vez mais repreendidos pelo olhar. Que não identificamos a sua maneira de ser, do seu querer. E quando queremos olhar, as vezes, nos envergonhamos não queremos abalar a pessoa para quem olhamos. Por isso disfarçamos, buscamos outros pensamentos. Em poucos momentos voltamos, e somos surpreendidos por outro olhar. Que disfarçou alguns tempos e sem querer olhar, olhamos. Quem de nós adultos, ainda não foi olhado com desejo, aquele olhar de beijo, que nos desconsertamos, nos deixando mexidos, confusos, até não termos certeza de sermos mesmo nós o objeto de desejo. Quem de nós não ganhou aquele olhar de repúdio, de exclusão dos meios, quando sem percebermos avançamos as faixas de limitações que nós mesmos regemos, o bom caminhar. O nosso olhar é a grande dádiva dos humanos, em um reflexo tentamos entender o que um olhar quer que entendamos. Quem de nós ainda não ganhou um olhar cheio de códigos, alguns indecifráveis por nós, que ficamos atônitos com os códigos que nos atropelam. Demoramos muito tempo descodificando os primeiros e para separar o código primário, talvez nos perdemos aí, exatamente na preocupação de entendermos. Deixamos os outros escaparem de nós, na busca, perdemos parte. Parte de nós, do já entendido.