Augusto era fruto de suas próprias frustrações, decepções amargas demais para serem sentidas em uma vida tão jovem e deveras passageira. Ilda apodreceu, como fruto, como mulher, como uma história contada e já esquecida por aqueles que contaram e por aqueles que escutaram. Um homem e uma mulher verdadeiramente unidos, por fios tão efêmeros, tênues e únicos, que era imperceptível a ligação gerada pelos dois. Ambos tão íntimos, e tão distantes, quiçá agora próximos até demais. Os dois nunca chegaram a se encontrar, mas se encontraram tantas vezes. Na verdade, Augusto encontrou a Dona Ilda, ela, já cabisbaixa pela idade, um pouco ausente em memórias ou curiosidades alheias, nunca soube sobre a sua existência. Eles tinham muito em comum. E o único momento compartilhado nos suspiros finais daquelas duas vidas foi marcado por trinta e oito segundos. Primeiro partiu Augusto. Trinta e oito segundos depois foi a Dona Ilda. Mas essa história não é sobre a partida de Augusto ou sobre a triste e previsível parada cardiorrespiratória de Dona Ilda. Essa é a história das possibilidades da vida e da morte.