Eles ainda não se conheciam de verdade. Não sabiam os pequenos detalhes que tornam alguém íntimo: ela era alérgica a banana, ele não suportava perfumes fortes; ela amava gatos, ele se encontrava nos videogames. Mas havia algo maior, algo que os aproximou antes de qualquer explicação. Naquela tarde, ela estava sentada no sofá quando o mundo pareceu desabar por dentro. O coração acelerou, o ar ficou pesado e o fogo que ninguém podia ver começou a consumir tudo ao seu redor — um incêndio silencioso, invisível, que só ela sentia. Ele não entendia exatamente o que estava acontecendo, mas sabia que precisava ajudar. Sem saber o que fazer, improvisou. Fingiu segurar uma mangueira, um extintor, qualquer objeto que pudesse apagar o fogo que ela imaginava. E aquilo funcionou. Ela riu. O fogo diminuiu. Pela primeira vez, ela não estava enfrentando o incêndio sozinha. Ela descobriu o que era companhia. Ele descobriu o que era ansiedade. Ela aprendeu que o mundo dele não era só dele, e ele percebeu que ela era muito mais forte do que imaginava. Mas amar alguém que arde por dentro é caminhar sobre brasas. Ele sabia que precisava protegê-la, mesmo que isso o levasse a escolhas difíceis. Mesmo que, para salvá-la, ele precisasse enganá-la.