Não hesito em afirmar que uma antologia tão ampla de meus escritos nunca foi publicada sequer na Itália."" Assim se refere Norberto Bobbio a este livro, resultado de cuidadoso trabalho de um discípulo seu, José Fernández Santillán, que assina o longo estudo introdutório. Nascido em 1909, em Turim, Bobbio foi um dos mais destacados intelectuais militantes do século XX. Graduou-se em direito em 1931 com uma tese intitulada ""Filosofia e dogmática do direito"". Em 1933 obteve outra licenciatura, agora em filosofia, com o trabalho ""A filosofia de Edmund Husserl"". Lecionou nas universidades de Camerino, Siena e Pádua antes de tornar-se, em 1948, titular da cátedra de filosofia do direito na Universidade de Turim. Em 1972, transferiu-se para a Faculdade de Ciências Políticas da mesma instituição. Em paralelo à vida acadêmica, foi um observador participante de todos os eventos que marcaram o século. Viu a ascensão do nazi-fascismo, alistou-se na Resistência, combateu na Segunda Guerra Mundial, assistiu ao início da era atômica e da Guerra Fria, testemunhou o fim da União Soviética e refletiu intensamente, já nos anos de velhice, sobre os rumos da civilização contemporânea. As relações entre política e cultura, a posição dos intelectuais em relação ao poder, a dicotomia entre sociedade civil e Estado, a teoria das formas de governo, a formação do Estado moderno e os processos de mudança política foram temas permanentes em sua vastíssima produção intelectual.
Publicou mais de duzentos livros, sozinho ou em colaboração. Entre os mais famosos estão ""A teoria da ciência jurídica"" (1950), ""A teoria da norma jurídica"" (1958), ""A teoria da ordem jurídica"" (1960) e ""O positivismo jurídico"" (1961), surgidos de seus cursos. Outros nasceram de compilações de ensaios, como ""Jusnaturalismo e positivismo jurídico"" (1967), ""Estudos para uma teoria geral do direito"" (1970) e ""Da estrutura à função: novos estudos de teoria do direito"" (1977). Sempre escreveu dialogando com os clássicos, especialmente Hobbes, Kant, Hegel, Marx, Weber e Kelsen, cujas obras conhece profundamente.
Ao longo de décadas, coerentemente, Bobbio enfatizou a importância da democracia, dos direitos individuais e da lei. Defendeu a concepção relativista da verdade, o espírito de tolerância, a recusa ao fanatismo, o respeito às minorias e a pluralidade. Mas nunca negou sua condição de homem de esquerda, adepto de mudanças e crítico das desigualdades, buscando encontrar um terceiro caminho entre o bloco comunista e o mundo capitalista. Tal caminho teria de combinar teses marxistas e teses liberais. Justamente por isso, envolveu-se em muitas polêmicas, mas obteve o respeito unânime dos seus interlocutores, que, sem exceção, consideram-no um dos maiores intelectuais do século XX.
César Benjamin"