Um diplomata brasileiro recém-chegado à China é enviado à vizinha Mongólia em busca de um jovem fotógrafo desaparecido um ano antes. Bernardo Carvalho compõe uma narrativa de ficção ambientada num país sem memória e explora temas como a dificuldade do encontro com o desconhecido e a relação entre imaginação e realidade.
O romance Mongólia estrutura-se como um "diálogo" entre o diário de um fotógrafo desaparecido nos montes Altai e as anotações do diplomata brasileiro encarregado de encontrá-lo.
A narrativa apresenta experiências marcadas pelo contato do olhar estrangeiro com a cultura de um país desconhecido: a vida dos nômades no deserto de Gobi e nas estepes mongóis, dos tsaatan (criadores de renas) na fronteira com a Rússia e a dos criadores de camelos no deserto de Sharga; os encontros com um cantor difônico, um monge budista e um falcoeiro cazaque.
Os protagonistas se vêem diante de um povo que exercita o misticismo como quem descobre a liberdade depois de setenta anos sob o jugo de uma ditadura comunista. Na Mongólia, a imaginação, antes cerceada, agora ocupa o lugar da memória que se perdeu pelo uso da força.
Desconfiados e iludidos, os mongóis misturam a percepção da realidade com o desejo e a imaginação, assombrados por histórias cuja veracidade só podem provar com a própria perdição.
* Bernardo Carvalho viajou à Mongólia em 2002 com uma bolsa concedida pela editora portuguesa Cotovia em parceria com a Fundação Oriente de Lisboa.