Estas são Memórias, isto é, as memórias de um cronista-quase-romancista, ou seja, um quase-romance (segundo a teoria, literária, romance é uma obra com mais de vinte e cinco capítulos, ou seja, maior que a novela, com mais ações, mais personagens e maior fôlego), ou melhor, são lembranças (= memórias) de vida; não têm a beleza e intensidade das Memórias póstumas de Brás Cubas, obra modelar de Machado de Assis ou dos Contos licenciosos do Marquês de Sade, nem as belezas das Memórias da Rua do Ouvidor, como registrou Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882) ou as Memórias de Adriano, Imperador romano, contadas pelo elegante estilo da escritora belga Marguerite Yourcenar mas; insisto, são Memórias – quase romance; passadas ao cronista-quase-romancista (a voz que 'fala no texto'), e pululam há muito na cachola deste, isto é, na mente, na cabeça, no cerne, na alma; lutam, relutam, resistem em saltar para o papel.