Escrever "mão de moleque" acordou-me do pesadelo de não ter tido infância. São lembranças que quebram o gelo do cotidiano. É inevitável perceber o avesso do tempo deixando-nos mais sensíveis, as lembranças ficando mais distantes do hoje e mais próximas da infância, como um ciclo se fechando. Quem nunca se deixou levar pelos cheiros e texturas do que comíamos quando meninos, ou não se lembra do arrepio provocado pela água fria da chuva caindo sobre a pele? Minha infância e adolescência foram em um lugar onde nunca mais consegui estar plenamente, como só uma criança consegue. Quem ensina a subir em árvore, é a própria árvore, é a vida dizendo: experimente! Agora entendo um pouco mais de mim e do tempo. Os pesadelos do passado já não incomodam tanto. Quando coloquei estórias e lembranças em um caldeirão, e como um bruxo, dei vida a meninos como Almir, Deco, Lucas, Batista, Alemão, Barriga e Miro, foram momentos em que me senti pleno. Foi tão prazeroso ou mais ainda, do que compor uma música.
Que as crianças vivam o grande momento de ser, e deixem de herança, o que só elas são capazes de ensinar!