Gilles Deleuze nos ensina que a dialética poderia ser chamada de representação orgiástica, isto é, uma teoria que suborna a experiência da diferença ao idêntico. Despejando causas infinitamente grandes a infimamente pequenas, estaria o universo condenado a repetir os acontecimentos, produzindo apenas o mesmo.
Linhas de Fuga trata-se de um livro de poesias ultramodernas como um convite de inspirar-se no projeto de Filosofia da Diferença, interrogando sobre a singularidade dos acontecimentos, para que a criação do novo nunca se interrompa.
Para tanto, a obra mobiliza afetos, buscando sensibilizar os órgãos do sentido para a beleza ora sutil ora grotesca dos versos narrados. Também condiciona o percepto, ensejando um olhar minucioso em direção ao horizonte de possibilidades. Finalmente, apura o intelecto, em um processo de desterritorialização de certezas e reterritorializações de dúvidas.
Caracteriza-se estes versos como poesia ultramoderna, o que significa abraçar o movimento modernista de autofagia da cultura antropológica, com sabores de novidade. O prefixo ultra remete ao nebuloso, às intensidades puras, que não transitam no eixo da semiótica, o campo das significações. Portanto, ora valendo-se da mais criteriosa ciência, ora evocando-se a fugidia mitologia, os versos narrados compõe um quadro que mobiliza o afeto, o percepto e o intelecto em movimentos de intensidade.
Que Linhas de Fuga segmente o desejo em devires afetivos, perceptivos e intelectivos, pois assim como sua cadência ritmada tem sabor de temporal, como a sequência de eventos com o soprar dos ventos unidos em uma mistura caosmótica, também há espaço para a verdade incluindo novidade, algum grau de desarmonia arranjando uma forma harmônica.