No cinema, é bem comum que diretores façam muitas vezes um jogo de câmera chamado travelling, isto é, movimentos que não giram sobre o próprio eixo, mas que se deslocam na mesma cena. Lucas Daniel Tomáz parece fazer a mesma coisa neste livro. O autor desarticula o tempo e o espaço, bem como seus personagens e situações, daí suas narrativas circulares: a história curta e hermética de uma drogada a um hospital psiquiátrico, uma viagem de férias entre pai e filho que termina em um pesadelo terrível, a namorada sem nome que tem problemas de projeção freudiana em seus relacionamentos, dois primos que combinam o comodato de uma mulher para reaver as cifras de uma lavagem de dinheiro. Os contos deste livro formam um todo coeso, de temas à estética, oscilando entre um hiperrealismo literário e a artificialidade das histórias em quadrinhos, muitas vezes regado à violência e a impossibilidade de olhar para o outro. Começa com um um ponto de partida bem definido que vai permeando todas as histórias, até culminar na última palavra, com a mesma cena vista por outro ponto de vista ou outra câmera, como um jogo de espelho.