Clóvis Bulcão faz uma análise do período entreguerras no Brasil através da biografia de um dos tycoons da indústria nacional no século XX: Henrique Lage.
Henrique Lage é um dos principais nomes da história empresarial e do empreendedorismo nacional. Quando o Estado brasileiro só tinha olhos para o café, o maior produto nacional, o empresário carioca ousou investir em carvão, aço e navios, elevando o país a outro patamar industrial. Ele apostou na indústria carbonífera de Santa Catarina e expandiu a malha ferroviária local; construiu um porto na cidade de Imbituba; transformou a ilha do Vianna, na baía de Guanabara, em um polo industrial de ponta; e ainda construiu o primeiro navio petroleiro da América do Sul.
Além da faceta empresarial, Bulcão apresenta Henrique Lage como um homem apaixonado: sua musa, a diva italiana da cena lírica Gabriella Besanzoni, foi uma das grandes estrelas da ópera, a Maria Callas de sua época, um sucesso nos palcos de todo o mundo. Depois de anos de cortejo, os dois se casaram e, dez anos depois, Gabriella ganhou de presente aquele que se tornaria um dos espaços públicos mais belos e mais frequentados no Rio de Janeiro: o Parque Lage, no bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Inaugurado como Villa Gabriella, o local ficaria famoso como um conservatório de música (hoje escola de artes) e pelas feéricas festas dadas pelo casal, com a presença de chefes de Estado e de toda a alta sociedade carioca da primeira metade do século passado.
Nos percalços enfrentados por Henrique Lage, em seu caminho para o desenvolvimento da industrialização do Brasil, alguns elementos são típicos da realidade brasileira: a instabilidade econômica; as leis promulgadas hoje e desfeitas amanhã; a quase inexistência da malha ferroviária; os planos anunciados com estardalhaço e nunca realizados; os favorecimentos; os pagamentos do governo demorando bem além do pactuado; as mudanças a cada troca de governo. Mas este livro é muito mais do que uma biografia do grande industrial. Com riqueza de detalhes e pesquisa apurada, Clóvis Bulcão traça um panorama do Brasil no início do século XX.