A crise chegou. Você está desempregado, sem rumo, ou "só" perdido.
"Qual é seu plano B?" é a pergunta que você vai ouvir de todos, mais vezes do que gostaria. Você não tem um plano, mas sabe que mudar é inevitável.
Na jornada para identificar suas motivações, aparece outra pergunta: você tem um propósito? Também não é fácil responder essa. É preciso tempo. Se conhecer. Se reconhecer. E olhar ao redor.
"Como está o Fernando?"
Essa mensagem piscou pelo menos 20 vezes no meu celular. Avalanche. Todas de uma vez só. O sinal voltara na famosa Ruta 9 chilena, a caminho da cidade de Punta Arenas. Eu e outras 14 pessoas voltávamos de uma expedição nas montanhas da Patagônia chilena. Foram 5 dias sem internet, 5 dias sem telefone. Cinco dias sem contato algum além de fósseis de dinossauros. Alguma coisa tinha acontecido com Fernando.
E no meio daquela enxurrada de perguntas, consegui localizar um aviso dele: "Juju, está tudo bem." Não havia nenhuma outra explicação, nenhum áudio e nenhuma ligação perdida. Era só um aviso para que eu não entrasse em pânico. Com o sinal oscilando, corri para o Google e digitei "Fernando Rocha". Lá estava a notícia reproduzida em centenas de sites: "Fernando Rocha é dispensado pela Globo e deixa Bem Estar."
Eu demoraria mais um dia e meio para retornar ao Brasil. E é claro que, para a história ficar mais angustiante, o voo atrasou, o aeroporto de Guarulhos fechou. Na minha pressa de voltar para casa, eu mal podia imaginar quanta experiência bacana estava para começar.
Se o Fernando levou um tempo para entender e significar tudo o que tinha acontecido, quem estava por perto reparou em mudanças muito mais rápido. "O Fernando está diferente", "O Fernando está mais leve", "O Fernando está mais feliz?". Pode parecer estranho. Como um apresentador da maior emissora do país, que apresentava diariamente um programa ao vivo para milhares de pessoas, poderia estar mais feliz fora das telas? É aqui que o propósito começa a entrar na história.
Depois de quase 3 décadas de casamento com uma empresa de comunicação, Fernando vivenciou seu luto: reconheceu e elaborou a perda. E, no final do processo, entendeu o valor da saudade possível. Em busca de um plano B – sem perceber que já tinha muitos –, entendeu que seu movimento era ir sempre atrás da alegria e não de um "plano". Sem ela, ser âncora de uma emissora de TV só traria glamour e status.
O encontro de histórias tão profundas contadas neste livro – da ascensorista, da educadora, do psicanalista, da monja, da médica e a do ator que virou jornalista – deu nome a seu propósito: como ser leve em um mundo pesado.
Júlia Bandeira
Jornalista e psicanalista