Esta história foi escrita em meados de 2020, em plena pandemia do Covid-19, durante um período de isolamento social. O vírus foi identificado pela primeira vez a partir de um surto em Wuhan, China, em dezembro de 2019. As tentativas de contê-lo falharam, permitindo que o vírus se espalhasse para outras áreas da China e, posteriormente, para todo o mundo. Neste tempo, sem trabalho e sem perspectivas em relação ao futuro, a única coisa que fiz foi escrever. Desenvolvi uma história profunda e emocionante. A princípio batizada como "Lutero", este também é o nome do personagem principal que, ao mesmo tempo em que busca fazer uma reflexão acerca de um monstruoso sentimento de perda que o persegue, depara-se com uma estranha e insegura sensação: Ser pai pela primeira vez. A notícia chega como um divisor de águas em seu caminho. Após algum tempo de relacionamento com sua atual companheira, ela acaba engravidando e, meses depois, vem ao mundo o pequeno Gabriel, uma criança meiga e muito esperta. É incontestável que Lutero ama seu filho e pretende dar o melhor de si, mas uma depressão profunda enraizada nos primórdios de sua existência passa a soprar em seus ouvidos que talvez ele não esteja pronto para ser pai; talvez aquela criança tivesse mais perspectivas de vida se tivesse nascido em outra família, uma vez que Lutero conhece a si próprio e sabe que é mentalmente instável. Batalhando contra seus próprios demônios, aos poucos ressurgem indivíduos que, em algum momento, auxiliaram ou atrapalharam. Lutero tentará se livrar dos fardos de culpa e de dor que carrega consigo por conta de situações e pessoas passadas. Neste processo de reconstrução mental e estruturação, naturalmente, haverá uma ou outra recaída. Aos poucos, Lutero refaz seus próprios conceitos e aprende a distanciar-se do sentimento de posse que tinha em relação a coisas e pessoas, uma vez que percebe que absolutamente tudo é passageiro, e a única coisa que ele pode possuir de verdade são momentos ao lado daqueles que realmente importam.