Se eu pudesse voltar no tempo, faria diferente. Quem nunca disse ou pensou isso? Arrependimentos fazem parte da vida, não temos uma bola de cristal para prever o futuro, apostamos nele e às vezes acertamos. Muitas vezes, porém, o tiro sai pela culatra, seja porque as decisões foram equivocadas, os caminhos tomados foram os errados ou porque a imprevisibilidade do amanhã bagunça tudo. Nascemos e morremos, só isso podemos afirmar, todo o resto é incerto. O segundo que vem pela frente não nos pertence, ele nos é agraciado, até quando, não se sabe. Enquanto isso, a história vai crescendo, registrando os fatos, numa sinestesia mal explicada, misturando tudo, momentos, cheiros, cores, sons, fabricando lembranças, boas e ruins. E assim, seguimos adiante, vivendo e sobrevivendo, aprendendo com os erros, costurando os retalhos do passado, escutando seus ecos. Nada na vida é por acaso, tudo acontece por alguma razão. A máquina do tempo ainda não foi inventada, viajar para o passado e reescrever a história não é possível. Será?Pois tudo começa numa noite fria de domingo, em junho de 2016, quando Victor Hugo Melo de Almeida, um professor universitário de quarenta e poucos anos, assiste a um documentário sobre o famoso ator Hector Barbieri, morto vinte anos antes em um trágico acidente aéreo. Acometido por uma doença cardíaca, debilitado física e psicologicamente, ele tem uma série de introspecções ao ver as imagens mostradas, resgatadas dos anos noventa, mesma época de sua juventude, dos tempos de estudante de engenharia, de saúde, de felicidade e de amor. Victor e Hector frequentaram o Colégio Emile Zola de São Carlos, onde tiveram um rápido contato pessoal no longínquo ano de 1989. Sem saber, os dois selaram seus destinos dali em diante, alterando seus rumos, levando vidas que se cruzam e que se modificam para sempre. Nesse contexto, Hector lhe reaparece como um enigma, um mensageiro do Além, chamando sua atenção para as cenas que viajavam diretamente do túnel do tempo, através da TV.Após o documentário, nos dias que se seguiram, Victor Hugo é arrastado para o passado dentro de uma onda nostálgica, alimentada por uma voz interior dizendo, o tempo todo, “volte para mim”, “volte para mim”. Igual aquele filme, que filme mesmo? Na busca pelo espírito de sua juventude, ao som de When I Come Around do Green Day, Victor transcende o imponderável, entra, literalmente, na música, e viaja no tempo, de volta ao carnaval de noventa e seis, dias antes de Hector morrer. Ciente do feito, ele aproveita para tentar mudar a injusta história do ator famoso que morreu jovem, no auge do sucesso, mas acaba embolando o meio de campo e dando um nó na linha do tempo. Aproximação Final é a narrativa de Victor Hugo sobre sua existência nas linhas e nas entrelinhas de uma trama improvável e cheia de personagens insólitos, como um guru indiano, que nada faz, um filósofo francês e sua regréssion mélodique, e uma estranha kombi azul calcinha, vilã e heroína, com cheiro de alfazema. De Pérouges à Côte D'Azur, na França, de São Carlos à Itaúnas, no Brasil, passado e presente brincando livremente, invertendo os segundos e enganando o curso do tempo. Um enredo de amor e de amizade, de reencontro com a juventude esquecida, pronto para o embarque num voo com destino ao passado que nunca ficou para trás.