O livro trata do momento socialista das massas no começo do século 20. Naquela época, com a opressão trabalhadora criada pela recentíssima revolução industrial, a população ainda relutava em se ver refém de empregos em áreas urbanas insalubres, com salários de fome e jornadas de trabalho elásticas. As fábricas contratavam crianças a partir dos oito anos, os homens trabalhavam em minas de carvão sem equipamentos de segurança e as mulheres tendiam a morrer ainda muito novas. Os eventos se encadeiram quando um eloquente e entusiasmado trabalhador passa a organizar uma reviravolta no sistema dominado pelos empresários dos Estados Unidos. Sua provocação acaba por criar um mal ainda pior, a Oligarquia ou, como ele mesmo a batizaria, A Bota de Ferro — um governo de classes corrupto e opressor que duraria sete séculos. Escrito de forma autobiográfica pela esposa do revolucionário Ernest Everhard, morto em uma emboscada, o Manuscrito Everhard só seria encontrado séculos depois, quando a sociedade finalmente encontraria um sistema justo e próspero para todos os seus cidadãos; a autobiografia é, então, anotada por Anthony Meredith, um representante do Movimento Mundial do Trabalho. Em A Bota de Ferro (The Iron Heel, 1908), London relata cenas e eventos que parecem proféticos tanto ao seu futuro imediato como até mesmo ao século 21. Quando o escreveu, a Revolução Russa ainda não havia acontecido, as grandes guerras entre Alemanha e Europa e EUA também não e os movimentos de trabalhadores e seus sindicatos estavam sendo metodicamente desmantelados. Ao lado de Mil novecentos e oitenta e quatro, Admirável mundo novo e Fahrenheit 451, este livro tem seu lugar de honra assegurado entre os cânones da literatura distópica. Com uma biografia relida séculos no futuro e com uma narradora feminina em primeira pessoa, London ousou quanto às regras gerais da literatura da época e de seu próprio estilo.
Esta edição de A Bota de Ferro integra a segunda temporada do projeto Literatura Livre, fruto da parceria entre o Sesc São Paulo e o Instituto Mojo de Comunicação Intercultural, que promove o acesso gratuito a obras clássicas em domínio público por meio da tradução direta do idioma original.